sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Anos incríveis...

Sabe aquelas frases populares que são como lendas urbanas, coisas que todo mundo fala, que são muito comuns, clichés?? E de tão comuns você acaba achando que o o assunto ao qual se referem é superinflado, ou coisa do gênero???

Sempre ouvi dizer que que os anos da faculdade seriam os melhores anos da minha vida; confesso que pensava que este era um exemplo típico de matéria superestimada. Até entrar na faculdade. Escolhi como minha profissão um curso conhecido por ser frequentado por todo tipo de ser humano; e isso acabou sendo muito louco - muito cheio de diferenças, interessante, estressante... e por vezes até insano.
Quando comecei a faculdade, e me inteirei do mini curriculo das pessoas que se sentavam comigo todas as noites feito crianças babonas pra ouvir velhos fumantes - e meio bêbados as vezes - falarem sobre coisas que aconteceram num passado tão distante e tão próximo da gente, acabei percebendo que aquilo tudo poderia servir pra muita coisa. Pessoas de praticamente todo canto do país, com suas manias pessoais, regionalismos, preferências e gostos variados... se juntando pra ler livros de história medieval, aprendendo muito sobre a matéria e sobre o conhecimento do outro, sobre como desbravar barreiras internas - pode chamar de preconceito mesmo -, fazendo exercícios de paciência e tolerância - com os outros e com o sistema. Aí você descobre que pode sim - e muitas vezes precisa, rs - beber as segundas feiras.

É um período em que, na minha visão, como se a gente fosse pequenas crianças no pré primário loucas pra pegar um caderno e ficar fazendo rabiscos que não significam nada pra quem está fora daquele universo, se parece muito com a visão de um mergulho num portal, de um mundo paralelo - rs, a minha turma da faculdade costumava dizer que em algum lugar da estrada que levava ao interior do estado existia um portal, pelo qual alguns escolhidos passavam sem perceber, e aportavam naquela cidadezinha provinciana, tão pitoresca, e de lá só conseguiria sair depois de um período de no mínimo quatro anos; viagem? pode ser, se você está de fora. Pra quem viveu aquela confusão, faz todo sentido do mundo.

Reuniões se transformavam em baladinhas caseiras, almoços em jantas coletivas, jantares em ceias da madrugada, onde cada um comprava um ingrediente, e o resultado final era dividido igualmente entre todos os contribuintes - bem socialista. Não que a gente fosse, rs, mas essa era a forma justa que a gente encontrava.
Todos estigmatizados - sem precisar estar usando uma camiseta com o nome da faculdade -, encontrávamos identificação uns nos outros; e isso bastava. O círculo se fechava entre as pessoas com as quais convivíamos todos os dias, com quem a gente almoçava, jantava, estudava, ía no cinema pagando meia entrada a R$ 2,00, e tomava cerveja barata à base de moedas que sobravam da loja que fazia as cópias dos nossos textos. Atravessar a cidade de bicicleta pra ir no supermercado ou pra comer esfiha que lembrava o Habib's nunca foi tão divertido! A falta dos fast food era suprida com lanches cheios de ingredientes e escorrendo gordura comprados em barraquinhas que mais pareciam quartinhos de bagunça. Assim como ficar preso numa casa com mais 100 pessoas bebadas conversando em grupos e ouvindo bandas de garagem nunca fez tanto sucesso - sobre esse ponto posso dizer que passei meio ilesa - nunca fui muito com a cara de festas de república; mas não se pode negar que são um ambiente de socialização atraente, ainda mais quando se faz faculdade na Terra do Nunca.

Aí, vão passando os anos, e todos aqueles que eram simples inocentes, em meio a ataques de nervos - por conta de várias questões que não convém ficar rememorando nessa crônica, vão se tornando pessoas com experiências as mais loucas possíveis. E eis que chega o último ano, quando todo mundo já está calejado, e literalmente com o saco cheio. Não vêem a hora de terminar logo com aquela baboseira toda. E chega o dia da colação de grau. Um filme passa na cabeça, e inevitavelmente você se pergunta: e agora?
Alguns tem a sorte de já ter um rumo certo; outros ainda ficam vagando, gravitando em torno da vida que levaram por quatro anos seguidos - o que pra mim pode significar uma variação do que chamam de síndrome de Peter Pan. O fato é que, depois da faculdade, há uma necessidade de se crescer.

E depois de alguns anos, trabalhando na área ou em outra coisa, muitas vezes ainda batendo cabeça em outros cursos e na vida, o que sobra são só lembranças de toda a bagunça que se viveu quando se deciciu por atravessar aquele portal; noites de sono mal dormidas por motivos obviamente etílicos, amorosos ou por lazer, todo o aprendizado de como viver sozinho, ou com um monte de gente diferente; de como é difícil quebrar idéias pré fixadas na cabeça dos seus pais sobre o que fazem seus amigos, e na sua própria cabeça também... entender as razões da galera nem sempre é fácil...
Pra terminar, quatro anos depois daqueles quatro anos cheios de esperança, lições de vida e desilusões, com outra vida, outros amigos, outras coisas pra fazer, chego a conclusão de que aquela história que todo mundo me falava era de fato verdadeira. Aqueles anos foram sim, anos de ouro; foram sim, anos incríveis...