quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Os "Reality Shows" e a mágica da natureza humana

Não é segredo pra ninguém a minha fascinação pelo gênero televisivo. Eu definitivamente escolhi pra ser meu norte, em qualquer área que eu possa atuar, um tema muito, mas muito rico, e cheio de questões ainda por serem resolvidas. Mas minha aproximação à telinha não fica apenas no plano das teorias sociológicas, antropológicas, históricas e da comunicação que ela transmite e das pontes que estabelece com as outras mídias - pelas quais também desenvolvo um flerte quase que fatal, rs. Digo isso porque adoro ver televisão; não apenas como objeto de estudo e admiração, mas pra me distrair mesmo - é um dos meus mecanismos de "desligamento cerebral". Essa teoria particular pode fazer com que algumas pessoas me entendam como superficial, ou bobinha mesmo, mas é que quando se aprende toda a mecânica - explícita e pulverizada em pontos que olhos menos treinados não veem -, a coisa fica bem interessante e complexa, e o "deixar-se levar pelo roteiro" pode ser uma experiência bem relaxante.
Ditos esses pontos iniciais que mais uma vez vêm explicar "o porque "dos meus posts, hoje eu quero falar dos reality shows. Assunto comum? Pode ser. Mas o fato é que esse assunto tão comum instiga muita gente... e a mim também.
Ontem acompanhei com alguns amigos a estréia do reality show da Record, "A Fazenda", que está em sua terceira edição,  com um grupo de participantes extremamente heterogêneo, mas com alguma coisa em comum, como lembrava uma antiga propaganda de cigarros: 15 participantes, celebridades instantâneas ainda em busca de algum lugar ao sol, algumas um pouco fora do imaginário coletivo, algumas outras que optaram por suspenderem suas atividades profissionais por 3 meses em busca de projeção midiática e de um prêmio bem delicioso - 2 milhões de reais no final da jornada. A disputa já começou bem acirrada, com indícios de flertes entre participantes, troca de farpas e gafes durante a transmissão ao vivo. Nada de anormal, até aqui, para um programa que tem por objetivo confinar pessoas e testa-las, como um laboratório gigante, de uma experiência nacional, e de formato já bem conhecido de todos os brasileiros, sejam participantes ou espectadores. A tônica deste tipo de reality é a de que a audiência venha justamente por serem os confinados pessoas conhecidas daqueles que estão em seus sofás todas as noites.
Fazendo um leve exercício de memória e história, percebe-se que o formato escolhido pela emissora evangélica já foi proposto e trabalhado por uma outra, o SBT. O já findado "A Casa dos Artistas", apresentou pela primeira vez figuras públicas em convívio direto com outras, exercitando suas diferenças e suas capacidades. Aqueles meus leitores que também assistem televisão hão de se lembrar as trapalhadas vividas por dançarinas, lutadores e professoras de ginástica dentro de uma casa bonita, bem equipada, onde não havia nenhum real esforço para a obtenção dos recursos básicos de sobrevivência. Bastava estar ali e mostrar-se de fato como ser humano. O fato é que  a"Casa" foi um dos grandes sucessos da emissora de Silvio Santos.
Na Record, com a idéia de que as celebridades deveriam conhecer técnicas de trabalho em muito diferentes daquelas com as quais de identificam, acompanharemos dramas pessoais, romances , brigas, em meio a palha, leite saído da vaca e animais, além de alguns comportamentos nada surpreendentes - e também nada inéditos.
Na Bandeirantes, atualmente encontra-se no ar uma outra espécie de show, que consiste em enfiar uma dúzia de pessoas dentro de um onibus - micro apartamento, e viajar com eles  acompanhando todas as interações que podem - e as que não podem também -, existir entre pessoas anônimas.
Pioneira, a Rede Globo aposta a muito tempo no formato dos shows de realidade. Um dos primeiros programas nesta ótica foi "No Limite", no qual pessoas normais - algumas com habilidades mais aprimoradas que outras, e com uma série de limitações físicas e psicológicas, em váios graus, eram levadas a sobreviver em um ambiente cheio de adversidades climáticas, e sem o conforto das casas fechadas, maquiagem e agenda de estúdio comum, alimentando-se de sabores exóticos - e muitas vezes nojentos. Os limites reais eram testados de fato, por um prêmio que não chega nem perto dos valores oferecidos nos dias de hoje. Atualmente, esse formato que prioriza preparo físico e resistência mental é novamente empregado pela emissora de Roberto Marinho em "Hipertensão".
Mas a emissora líder no país tem entre as suas atrações, a uma década, um formato comprado de uma produtora internacional, que tornou-se sucesso de audiência, com um nome muito peculiar: o "Big Brother Brasil", estrelado por anônimos - e por alguns não tão anônimos assim -, é o que se pode chamar de referência em shows de realidade nacionais. As edições do programa global foram quase que em sua totalidade momentos de soberania da emissora, e tornaram-se uma verdadeira fábrica de famosos, com um nome popular que faz lembrança a uma realidade ficcional, trabalhada brilhantemente - tanto que chega a ser assutadora, por George Orwell na obra intitulada "1984", onde um país é governado e controlado pelo "Grande Irmão", que tudo sabe e tudo vê.

Trazendo de forma grosseira esse roteiro para nossos dias, o público destes shows de realidade acabam por assumir o papel desse "Grande Irmão", que conhece, opina, e determina quem é mais interessante e quem é descartável entre aqueles indivíduos escolhidos para a exibição pública. E se não estiver satisfeito com aquilo que é exibido todos os dias depois da novela, é só assinar uma transmissão integral e pronto: o laboratório pode servir a propósitos infinitos.
Uma das grandes questões que ficam disso tudo é exatamente a seguinte: após tantas edições e formatos diversos, a audiência destes programas continua a crescer. Porquê? Porque ao ser humano sempre interessa conhecer o âmago do outro; mesmo que este outro seja uma figura conhecida por "se montar pra balada", uma pessoa que conseguiu muitos seguidores no twitter, uma mocinha que soube aproveitar bem a projeção causada por um mini vestido ou um cara que quase ninguém lembra mais, soltando gritinhos frenéticos que fazem aqueles com quase trinta anos ou mais terem dejavus terríveis dos tempos de infância.
A paixão que surge com a exibição destes programas está exatamente nestes detalhes - de saber que o ator X, a cantora Y e muitos outros que só são vistos em revistas e outros tipos de programas vivem, comem, respiram, e sofrem como gente comum. Porque no fundo são gente comum? 
Não, nao são. São pessoas sim, mas sabem lidar com o oportunismo da vida de forma mais ágil que a maioria da população, que nunca vai chegar a aparecer em um reality, novela, revista de fofoca ou jogo de futebol. Pessoas que, devido ao sucesso desta tipo de programa, já sabem como falar e como agir diante de cameras, e compreendem o valor  de identificação que a venda de suas trajetórias pessoais pode ter na mente da população.
Estão ali, submetendo-se a olhares de milhares de pessoas, pondo-se a julgamento, mostrando suas fraquezas e forças, pelo motivo máximo de tornarem-se, ou manterem-se assunto? Pelo simples prazer de sair na rua e ser reconhecido por ser você mesmo, ou apenas pela oportunidade de fazer a vida financeira engrenar em apenas 3 meses???
As respostas para estas perguntas ficam no plano das conjecturas de uma espectadora estudiosa da magia da televisão...

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